Abraço em apneia
Oh noite de brisa que beijas suave,
Tu que brincas com os meus cabelos,
Deixa-me narrar-te como entrei
Pelo mar, como que para uma visita breve.
Sorri tal como a lua me sorriu na sua
meia luz...
Com a mesma vontade que uma vez ao
mundo vim...
Esse mesmo instante implacável,
E foi aí, foi aí que vi o mar.
Foi num abraço que te vi…
Imaginava-te diferente.
Longas barbas brancas de espuma,
E braços abertos, vestidos de algas.
Não tive outra alternativa,
Senão mergulhar nessa alucinação tão
real e sem medo.
Deixei-me abraçar... um abraço em
apneia pura,
Prolongadamente profundo.
O pânico invadiu-me, e as ondas que
cresciam
Como adamastores na minha direção,
Como que num abraço que apaga
qualquer memória ruim,
Tentavam-me levar para as profundezas
da escuridão.
Num estado puro de maternidade,
A água acariciava-me então, agora o
rosto.
No mesmo instante em que me emergia,
E expirava na direcção do céu turvo.
Se me voltares a dar esse instante,
fala tudo ...
Mas jamais me abraces -disse-lhe eu-
Pois não irei conseguir escutar mais
nada...
Somente, as palavras que não
disseste...
Os olhos com que vi,
Com espanto e ternura,
Eram os meus.
Meio céu e meio mar.
A espuma agora ,
Confundia-se com as nuvens...
E a lua aparece, como que estendendo um lençol
de luz branca,
Iluminando o caminho para
entrar no reino do mar…
Vi-te, pela primeira vez…
Deixei este oceano fazer-me feto...
Aos poucos fui nascendo e dei à
costa...
Aos poucos devolvido à terra…
O que aprendi?
Aprendi que os Homens estão muito
longe da verdade;
Correm querendo alcançar o vento,
Mas não mudará a sua realidade,
Aprendi que a cada onda arritmada da
invisível maré,
Tornamo-nos relógios com uma intenção
e uma vontade própria.
Aprendi que hoje, sou apenas uma
concha regressada,
Mas amanhã... serei uma pérola vidrada.
#Evie..
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