Terramoto


“O terramoto de Lisboa, mais do que qualquer outro, foi considerado o acontecimento mais     chocante para a civilização ocidental desde a queda de Roma. Os terramotos têm claramente uma ressonância metafórica. Estamos sempre a tentar determinar aquilo em que podemos confiar no mundo. Quando o chão desaparece debaixo dos nossos pés, alguém pode inclinar-se a dizer: é tão pouco aquilo em que se pode confiar.” 
                                                             Susan Neiman, “O MAL NO PENSAMENTO MODERNO”



     Sabes aqueles dias em que tu simplesmente não consegues dormir? Deitas-te na cama e só te consegues lembrar das coisas que te deitam por terra? Deitas-te e pensas 'vá tens que dormir, amanhã é dia de escola', mas o sono parece que está enjaulado e enquanto não pensares nas mil e uma maneiras de te odiares por aquilo que és e por aquilo que tu fizeste, o sono continua preso.
     Sinto-me assim. Tenho os pés bem assentes na Terra, mas o que é que isso me vai valer se não me conseguir controlar?
    Anulei uma disciplina. Vou como externo ao exame. Faço-me de forte. Todas as pessoas que falei sobre isso, só uma disse que me compreendia. Tenho medo, muito medo. Acreditei em mim, e  continuo a acreditar (acho), o problema é que não sei por quanto tempo mais. 
     Sinto que acabei de sentir um 'terramoto' . Tudo o que estava debaixo dos meus pés estremeceu e de repente, tudo ficou fora de sítio. Tenho que voltar a pôr as coisas no lugar e não sei se tenho forças suficientes. 
     Deixei de controlar a minha vida. Deixei de me controlar a mim mesmo. Sempre fui o protótipo do rapaz 'certinho'. Olhavas para mim e sabias que podias falar comigo o que quisesses. Sabias que eu era bom aluno e sabias que eu era uma boa pessoa. 
    Agora? Raios partam as hormonas ou sei lá o que faz isto!!! Ora estou sério e sereno, ora expludo num ataque de raiva ou de riso. Ora estou concentrado, ora estou a desconcentrar os outros. Não sei o meus limites. Por muito triste que seja eu dizer isto, mas a verdade é que...tenho medo de mim. Tenho medo do que eu me possa vir a tornar.  Mudei tanto... 
     Eu olho para as pessoas e só me apetece que elas desapareçam da minha vida. A minha turma está cheia de gente que não suporto, mesmo assim tento fazer-lhes sempre um sorriso, amarelo, mas tenho medo que expluda com um(a) e lhe diga das boas. Tenho medo de não saber o que posso contar de mim.
    E da mesma maneira que quando sentimos um terramoto vemos que o principal alicerce da nossa vida, ter os pés bem assentes na Terra, já não é válido, podemos num destes dias em que não conseguimos dormir, dizer: «é tão pouco aquilo em que se pode confiar»...

#Evie

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